“Lá embaixo”: Parte 4 – Útero, ovários, e cia

Útero, ovários, e cia
 
Acabou de chegar e quer entender o que está acontecendo aqui? Veja o primeiro post da série “Lá embaixo”!

Está acompanhando a série Percepção da Fertilidade e quer saber mais? Os próximos posts estão a caminho! Enquanto isso, recomendo ler esta série aqui (especialmente este post!), até mesmo porque ela servirá como base pra entender o ciclo menstrual e o método sintotermal de percepção da fertilidade!

Aviso importante: este post tem imagens e links pra imagens de anatomia.

 

Útero, ovários, e cia

Começamos nossa jornada pelo lado de fora e finalmente chegamos aos órgãos mais internos do sistema sexual e reprodutor feminino!

Mais do que uma fábrica de bebês, esses órgãos têm papéis importantes pra sexualidade e pra saúde como um todo!

Ovários

Você sabe dizer onde ficam os ovários? Ao responder essa pergunta, muita gente aponta pra barriga, mas na verdade os dois ovários ficam na parte baixa do abdômen, um pouco acima do monte pubiano, um do lado esquerdo e outro do lado direito.

 
Órgãos internos do sistema sexual e reprodutor feminino
 

O tamanho e a textura dos ovários mudam muito ao longo das fases da vida e do ciclo menstrual, mas basicamente, para mulheres em idade reprodutiva (entre a adolescência e a menopausa), os ovários são mais ou menos do tamanho de amêndoas e têm uma textura granulosa, como se tivesse várias bolinhas dentro deles.

Mas tamanho não é documento! Os ovários são, ao mesmo tempo, fábricas de células reprodutoras, os óvulos, e fábricas de diversos hormônios, incluindo estrógeno, progesterona e testosterona. Todos esses hormônios cumprem papéis muito importantes no nosso corpo (que veremos no próximo post da série Percepção da Fertilidade!), e continuam sendo produzidos pelos ovários, mas em menor quantidade, após a menopausa!

As “bolinhas” dentro dos ovários são os folículos, pequenas bolhas com um óvulo dentro. A cada ciclo menstrual, os ovários passam por uma série de mudanças e produzem diferentes hormônios, que por sua vez, causam mudanças em outros órgãos do sistema sexual e reprodutor feminino, e em todo o corpo. Durante o ciclo, um conjunto de folículos cresce e se desenvolve, o que explica a textura granulosa dos ovários, mas em geral apenas um (ou, às vezes, mais de um) folículo cresce mais e chega à fase de ovulação: o folículo se rompe e o óvulo sai do ovário.

Contraceptivos hormonais (incluindo pílula, adesivo, injeção, anel, implante, DIU — dispositivo intrauterino — hormonal) em geral bloqueiam a ovulação. Pode parecer simples, mas conseguir isso é um processo complexo e com efeitos também complexos sobre o corpo, que em breve pretendo abordar mais a fundo aqui no blog.

Tubas uterinas

Basicamente, as tubas uterinas são os braços do útero.

Útero e tubas uterinas

Útero sorridente mostrando seus braços, digo, tubas. Suas mãos têm um talento especial pra pegar óvulos.

 
As tubas uterinas são dois tubos que ficam um de cada lado da parte superior do útero. As pontas das tubas ficam bem perto dos ovários, e de fato, conseguem pegar o óvulo quando ele é liberado pelo ovário durante a ovulação.

Por dentro, as tubas são forradas por cílios, que se movimentam. Além disso, as próprias tubas se contraem. A movimentação dos cílios e a contração das próprias tubas ajudam a empurrar o óvulo em direção ao útero.

No meio do caminho, pode ser que o óvulo encontre um espermatozoide e ocorra a fecundação, a união entre os dois. Pois é, a fecundação acontece nas tubas, e não no útero. A união entre espermatozoide e óvulo dá origem ao zigoto, que segue crescendo (multiplicando células) e viajando pela tuba em direção ao útero.

Eventualmente, ao invés de seguir viagem até chegar ao útero, o zigoto (na verdade nessa fase ele já é chamado de blastocisto) se fixa na parede da própria tuba, levando a uma gravidez ectópica (uma complicação da gravidez, quando o embrião se fixa fora do útero, que exige cuidados médicos). Nesses casos, a mulher pode ter sintomas como dor abdominal e sangramento pela vagina. A gravidez ectópica pode ser confirmada com exames de sangue e ultrassom.

A laqueadura ou ligação tubária é a cirurgia de esterilização feminina, pra cortar ou bloquear as tubas, e portanto impedir que o óvulo chegue ao útero.

Útero

O útero é um órgão fantástico. Sua forma e tamanho mudam muito ao longo do ciclo menstrual e das fases da vida da mulher, mas em geral, o útero tem a forma e o tamanho de uma pera, só que de ponta cabeça.

Considerando essa comparação com uma pera de ponta cabeça, a parte maior corresponde à parte superior do útero, onde se encaixam as trompas, enquanto a parte menor corresponde à parte inferior do útero, chamada de colo do útero ou cérvix. O colo do útero se encaixa no final da vagina.

O útero, assim como os ovários, não fica “flutuando” dentro do abdômen sempre no mesmo lugar. O útero e os ovários têm certa mobilidade, que varia com as fases do ciclo menstrual e da vida, o nível de excitação da mulher, a postura do corpo ao longo do dia, e o condicionamento da musculatura pélvica.

 
Órgãos do sistema sexual e reprodutor feminino
 

Durante o exame ginecológico, o médico ginecologista usa o espéculo pra abrir de leve a vagina e conseguir enxergar, lá no fundo, o colo do útero. Quer saber o que ele consegue enxergar? Aqui tem uma foto (com texto em inglês), e aqui tem uma galeria de fotos (também com texto em inglês) do colo do útero de mulheres de diferentes idades, com e sem filhos, em diferentes fases do ciclo menstrual. Vendo assim, o colo do útero parece uma bolinha rosada, com uma pequena abertura no meio. Essa abertura, chamada os, é a “porta” do útero, que literalmente abre e fecha, por onde entram os espermatozoides e por onde saem o fluido cervical, o sangue durante a menstruação e o bebê durante o parto normal/natural.

O fluido cervical, como já vimos, é um fluido natural e saudável (ao contrário do corrimento não-saudável que pode indicar irritação e doenças) produzido pelo colo do útero, que varia ao longo do ciclo menstrual, está relacionado com a ovulação e aumenta a sobrevivência dos espermatozoides dentro do sistema sexual e reprodutor feminino.

O interior do útero é forrado por uma camada chamada endométrio. Ao longo do ciclo menstrual, sob a influência de diferentes hormônios, o endométrio vai sofrendo mudanças, se preparando para o caso de acontecer uma fecundação e o embrião se implantar no útero. No fim do ciclo, se isso não acontecer, essa camada se desmancha e sai do útero em forma de sangue, na menstruação.

Dentro do útero fica o DIU (hormonal ou de cobre). O DIU hormonal e os outros tipos de contraceptivos hormonais, além de impedir a ovulação, afetam a produção do fluido cervical e a estrutura do endométrio, o que dificulta ou impossibilita a fecundação e a implantação. O DIU de cobre não possui hormônios, mas o cobre em si torna o útero inóspito para os espermatozoides e para o embrião.

Durante a gravidez, o útero cresce pra acomodar o embrião/feto, a placenta, e a bolsa com líquido amniótico. No fim da gravidez, podem acontecer contrações de treinamento, espaçadas, sem ritmo, que ainda não são o trabalho de parto propriamente dito. Já no trabalho de parto em si, as contrações, o peso do bebê e a gravidade vão ajudar na dilatação, fazendo a abertura do colo do útero aumentar pra cerca de 10 cm, permitindo a passagem do bebê! Sim, é o colo do útero que dilata, não a vagina (ela não precisa disso, é elástica o suficiente pra dar conta do recado)! Pode até ser que o colo já esteja um pouco macio e dilatado antes de começar o trabalho de parto, mas se não estiver, isso não indica que a mulher “não vai ter passagem”! Após a saída do bebê e da placenta, e pelas semanas seguintes, o útero vai reduzindo de tamanho.

É ou não é um órgão de respeito?

Vagina

A vagina é um canal muscular aberto da lado de fora e fechado do lado de dentro, como um copo (ou seja, não tem como “perder lá dentro” um absorvente, por exemplo!). O colo do útero se encaixa no final da vagina.

A vagina é elástica o suficiente pra acomodar o pênis durante o sexo com penetração pênis-vagina (é redundante, mas vale lembrar que existem outros tipos de sexo!) e servir de passagem pro fluido cervical, pro sangue e pro bebê (não, não precisa de nenhum “cortinho pra ajudar”, que por sinal, não ajuda coisa nenhuma e ainda por cima atrapalha). Ou seja, bastante elástica.

Por falar em sexo… Vale a pena falar também de virgindade e hímen. Virgindade é um conceito super relativo, que não necessariamente tem a ver com o estado do hímen. O hímen é uma pele dentro da vagina, na entrada. Geralmente ela não cobre totalmente a vagina, e além disso pode ter buracos, que permitem, por exemplo, a passagem do sangue. O hímen em geral é elástico e, ao contrário do que se pensa por aí, não necessariamente rompe e sangra com a penetração da vagina (seja por um pênis, por uso de absorvente interno ou coletor menstrual, ou por masturbação). Com exceção de certas condições médicas (que merecem ser investigadas!), dor e sangramento durante o sexo não são uma regra, e tem mais a ver com o estado de excitação e lubrificação da mulher do que com o número de vezes que ela já fez sexo.

Ah, e sobre absorvente… O absorvente interno fica dentro da vagina, bem no fundo, perto do colo do útero. Já o coletor menstrual (assunto de futuros posts aqui no blog!) também fica dentro da vagina, mas logo na entrada, e funciona de forma diferente (e melhor, na minha opinião e de outras mulheres também) do absorvente interno.

 

 

😉

Além de elástica, a vagina também é autolimpante! Portanto, nada de ducha e sabonete nela! Limpar, só por fora, com água, sabonete leve, e carinho!

 

O fim de uma jornada é só o começo de outra

E aqui encerramos a série “Lá embaixo”! É claro que dá pra falar muito mais sobre o sistema sexual e reprodutor feminino, mas a ideia aqui era só dar uma pincelada, uma visão geral. Mas ainda vai ter muito mais no blog. Fica aqui! 😉

Pra quem quiser aprender mais, a biblioteca tem várias dicas de livros, sites e outras referências.

E se você não viu ainda, fica aqui o convite pra dar uma olhada na série Percepção da Fertilidade, que explica o que é essa tal de “percepção da fertilidade” (e por que ela é tão legal!). Essa série vai explorar em detalhes o que acontece no sistema sexual e reprodutor ao longo do ciclo menstrual, e como usar esse conhecimento sobre o funcionamento do nosso corpo pra engravidar, evitar engravidar, ou saber mais sobre a nossa saúde, usando o método sintotermal.

E assim a jornada continua! =)