Percepção da fertilidade: Parte 2 – Métodos baseados na percepção da fertilidade (Não é tudo farinha do mesmo saco!)

Métodos baseados na percepção da fertilidade: formas de determinar os períodos fértil e infértil do ciclo menstrual

Métodos baseados na percepção da fertilidade: formas de determinar quais são os períodos fértil e infértil do ciclo menstrual

 

Este post é a parte 2 da série Percepção da Fertilidade; se você não viu ainda, aqui está a parte 1, que explica o que é a percepção da fertilidade (e porque ela MUITO interessante)! Também recomendo ver a série “Lá embaixo”, que descreve o sistema sexual e reprodutor feminino. Fica a dica! 😉

Hoje vamos ver os chamados métodos baseados na percepção da fertilidade.

 

Fertilidade, homens e mulheres

Em geral, homens são férteis desde a adolescência até o final da vida. Nesse período de tempo, a qualquer dia e hora, o corpo do homem sempre tem espermatozoides disponíveis, ou seja, prontos pra fecundação.

Já as mulheres, em geral, são férteis desde a adolescência até a menopausa, em torno dos 50 anos. Veja que eu falei “desde a adolescência”, e não desde a “primeira menstruação”, ou seja, a adolescente não precisa ter tido sua primeira menstruação, ela pode já estar fértil antes disso! Nesse período de tempo entre adolescência e menopausa, se a mulher não estiver usando contraceptivos hormonais (incluindo pílula, adesivo, injeção, e certos tipos de DIU — dispositivo intrauterino — que contêm hormônios), ela tem ciclos menstruais, e seu corpo só tem um óvulo disponível por alguns dias em cada ciclo (ou, em alguns casos, mais de um óvulo, mas ainda dentro desse mesmo intervalo de alguns dias)! No resto do tempo, a mulher simplesmente não tem óvulos disponíveis!

O período fértil do ciclo menstrual

Ah, então dá pra engravidar se houver sexo com contato entre pênis e vulva/vagina nos dias em que o óvulo está disponível? Não! Também dá pra engravidar se houver sexo com contato entre pênis e vulva/vagina mesmo alguns dias antes do óvulo estar disponível!

Por quê? Porque os espermatozoides conseguem sobreviver por alguns dias dentro do sistema reprodutor da mulher, se as condições estiverem adequadas — e quando a mulher está perto de ovular, as condições estão adequadas! —, e ficam lá esperando o óvulo aparecer!

 


Juntando os dias em que os espermatozoides conseguem sobreviver dentro do corpo da mulher esperando pelo óvulo com os dias em que o óvulo está disponível no corpo da mulher, temos o período fértil do ciclo menstrual, que é de aproximadamente 1 semana.


 

E a pergunta que vale um milhão de reais é…

 


QUANDO é o período fértil?


 

Responder essa pergunta é o objetivo de todos os métodos baseados na percepção da fertilidade!

 

Métodos baseados na percepção da fertilidade (Não é tudo farinha do mesmo saco!)

Do inglês, fertility awareness-based methods, esses métodos buscam determinar os períodos fértil e infértil do ciclo menstrual.

Sabendo isso, é possível usar esses métodos de diferentes formas:

  • pra engravidar — fazendo sexo com contato pênis-vulva/vagina nos dias férteis;
  • pra evitar engravidar — evitando qualquer forma de sexo (abstinência) ou fazendo outras formas de sexo que não envolvam contato pênis-vulva/vagina ou usando métodos de barreira (como camisinha masculina, camisinha feminina ou diafragma) nos dias férteis;
  • pra monitorar a saúde — dá pra saber muito sobre a saúde da mulher a partir do seu ciclo menstrual.

Mas cada método tem uma forma diferente de dar sua resposta.

Métodos baseados no calendário

Esses métodos, incluindo a famosa “tabelinha”, se baseiam em observar e registrar a duração do ciclo menstrual (contando o primeiro dia de menstruação como o primeiro dia do ciclo) e no fato de que a menstruação sempre vem aproximadamente 14 dias depois da ovulação. Com isso, teoricamente, é possível calcular aproximadamente quando foi a ovulação. O que os métodos de calendário fazem é usar os dados de ciclos menstruais do passado pra tentar predizer os ciclos menstruais do futuro.

E qual é o problema com isso? Veremos em detalhes no próximo post, mas o problema é que, por mais que o ciclo menstrual de uma certa mulher seja perfeitamente “regular”, a ovulação não tem data marcada! Ela pode acontecer antes ou depois da data calculada por esses métodos!

 


Tá, então se não dá pra usar o passado pra predizer o futuro, o que a gente faz?

Usa o presente pra entender o presente.


 

Métodos baseados em sinais primários de fertilidade

Esses métodos se baseiam em observar e registrar a duração do ciclo menstrual, e principalmente, em observar e registrar, dia a dia, os sinais primários de fertilidade que o corpo apresenta ao longo do ciclo menstrual.

E quais são esses sinais primários de fertilidade?

 


Os sinais primários de fertilidade são o fluido cervical e a temperatura basal.


 

Fluido cervical é um fluido natural e saudável produzido pelo colo do útero (a parte inferior do útero. O colo do útero também é chamado de cérvix, e daí vem o adjetivo “cervical”). Esse fluido sai do colo do útero, escorre pela vagina e chega até a vulva, e pode ser sentido e visto pela mulher ao longo do dia, na calcinha, e ao se limpar após urinar e defecar. O fluido cervical está associado à ovulação (detalhes no próximo post!) e é graças a ele que os espermatozoides conseguem sobreviver por alguns dias dentro do sistema reprodutor da mulher! A presença ou ausência do fluido cervical, e as mudanças nas suas características ao longo dos dias, indicam se a ovulação está próxima, prestes a acontecer, ou já aconteceu naquele ciclo menstrual.

A temperatura basal é a temperatura do corpo em estado de repouso, medida com um termômetro específico logo após acordar, antes mesmo de se levantar. A temperatura basal também está associada à ovulação, mas de uma forma diferente do fluido cervical (detalhes no próximo post!): mudanças no padrão da temperatura basal indicam que a ovulação já aconteceu naquele ciclo menstrual.

Diferentes métodos usam diferentes sinais primários de fertilidade:

  • fluido cervical: método de ovulação Billings, modelo Creighton, método dos dois dias;
  • temperatura basal: método BBT (do inglês, basal body temperature, ou seja, temperatura basal do corpo);
  • fluido cervical e temperatura basal, juntos: método sintotermal.

 

Método sintotermal (sympto-thermal method)

O nome já diz tudo: “termal” indica “temperatura”, no caso a temperatura basal, e “sinto” indica “sintomas” ou sinais. Um deles é o fluido cervical.

Existe mais um sinal primário de fertilidade, que é o colo do útero. A posição, a textura e a abertura do colo do útero variam ao longo do ciclo menstrual e indicam se a ovulação está próxima, prestes a acontecer, ou já aconteceu naquele ciclo. Apesar de ser um sinal primário de fertilidade, acompanhar as mudanças do colo do útero não é necessário para utilizar o método sintotermal, é opcional.

Além disso, também há uma série de sinais secundários de fertilidade que também podem ser notados pela mulher ao longo do ciclo menstrual, como dor e sangramento da ovulação, sensibilidade nas mamas, inchaço na vulva, entre outros. Esses sinais podem variar de mulher pra mulher, e também podem variar pra uma mesma mulher (aparecendo em alguns ciclos mas não em outros), por isso são secundários. Ainda assim, eles podem ajudar a mulher a entender melhor seus ciclos.

A ideia do método sintotermal é usar a combinação dos sinais pra confirmar se a mulher realmente está na fase fértil ou infértil do ciclo.

Pra entender melhor o método sintotermal, no próximo post desta série, vamos ver como funciona o ciclo menstrual e como os sinais primários e secundários de fertilidade se manifestam ao longo do ciclo. Não perca!

 

Veja aqui a continuação desta série:

Percepção da fertilidade: Parte 3 – O ciclo menstrual